Arquitetura

A década de 40, no plano arquitetônico configura-se como uma apresentação e afirmação da arquitetura moderna brasileira no âmbito internacional. A aproximação entre Brasil e EUA devida a “política de boa vizinhança” implantada entre os governos dos dois países permitindo a troca de informações artísticas e culturais somada à divulgação dos trabalhos dos arquitetos brasileiros (principalmente Oscar Niemeyer) resultaram em uma grande exposição das obras brasileiras internacionalmente, o que fez que no início da década de 50 as atenções mundiais se voltassem para o Brasil, principalmente em direção à sua arquitetura.

Tudo isso também carregou consigo a consagração internacional da linha arquitetônica que vinha se definindo como a corrente mais significativa no cenário brasileiro (ou talvez a única até o momento), a Escola Carioca. A arquitetura de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Burle Marx, entre outros se tornava constante nos periódicos e livros especializados em arte e arquitetura, caracterizando o Brasil no ponto de vista internacional como uma arquitetura moderna que oferecia uma enorme contribuição ao movimento contemporâneo, resultado do êxito de sua adaptação aos condicionantes, à cultura local e à sua plasticidade formal.

Escola Carioca

Escola Carioca é o nome pelo qual certa produção moderna da arquitetura brasileira é comumente identificada pela historiografia. Trata-se originalmente da obra produzida por um grupo radicado no Rio de Janeiro, que, com a liderança intelectual de Lucio Costa e formal de Oscar Niemeyer, cria um estilo nacional de arquitetura moderna: uma espécie de brazilian style, que se dissemina pelo país entre os anos 1940 e 1950, contrapondo ao international style, hegemônico até os anos 1930.

Para entender o termo há que se recorrer a um dos episódios “fundadores” da moderna arquitetura brasileira: o projeto do Ministério da Educação e Saúde – MES, atual Palácio Gustavo Capanema, de 1936/1943, construído no Governo Getúlio Vargas. O edifício é desenhado por uma equipe liderada por Costa com a orientação direta de Le Corbusier, que vem ao Brasil auxiliar os jovens arquitetos na tarefa de projetar um prédio moderno como sede do ministério. A equipe, formada também por Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Niemeyer, realiza o primeiro edifício que incorpora em grande escala os cinco pontos da arquitetura corbusiana – brise soleil (quebrassol), pan de verre (pano de vidro ou courtain wall), teto-jardim, térreo com pilotis e planta livre – ao mesmo tempo que lança mão de uma plasticidade que não se vê comumente na arquitetura moderna de outros países e recupera elementos “nacionais”, como os painéis de azulejos.

Essa produção seria marcada por um sentido único de “exuberância” e “extroversão” e por “uma articulada e inteligente interpretação da nova arquitetura sem desprezar o passado, visto como sustentação do presente”,  tanto no âmbito do projeto quanto no  da historiografia. A relação entre modernidade e tradição é a base, portanto, não só da moderna arquitetura brasileira até a metade do século XX como também é o eixo do discurso construído por Costa acerca da história da arquitetura nacional, que liga a arquitetura produzida no período colonial e a realizada contemporaneamente.

Além do MES, são considerados exemplares da Escola Carioca obras como o edifício-sede da Associação Brasileira de Imprensa – ABI, 1936, dos irmãos Roberto: Marcelo, Milton e Maurício; a Estação de Passageiros de Hidroaviões, 1937,  de Attílio Corrêa Lima; o Grande Hotel de Ouro Preto, 1938, de Niemeyer, o Pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova York, 1938/1939, de Costa e Niemeyer; o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, 1940/1944, projetado por Niemeyer em Belo Horizonte; o Park Hotel São Clemente, 1944, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, de Costa; o Conjunto Habitacional Pedregulho, 1950/1952, de Reidy, entre outros.

A idéia de uma Escola Carioca de arquitetura é esboçada pela primeira vez por ocasião da publicação do catálogo da exposição Brazil Builds, no Museum of Modern Art – MoMA [Museu de Arte Moderna] de Nova York, em 1943. No mesmo ano, essa produção nomeada internamente de Escola Carioca começa a ser conhecida como brazilian style.

De fato, a partir da década de 1940 é possível verificar em várias cidades do Brasil uma produção que pode ser identificada com a rubrica Escola Carioca. Encabeçada por arquitetos cariocas ou formados no Rio de Janeiro – como Hélio Duarte, que dirige a experiência do Convênio Escolar em São Paulo, 1948/1952, e Niemeyer, que projeta os principais edifícios do Parque do Ibirapuera, 1954, responsáveis pela introdução da arquitetura moderna nos edifícios públicos em São Paulo -, não se pode afirmar que ela represente a totalidade da produção arquitetônica brasileira. Pois mesmo entre os arquitetos cariocas há aqueles que em sua obra ou em alguns projetos buscam se manter fiéis aos preceitos racionalistas mais estritos, como Jorge Moreira e Vital Brazil, ou construir outros vocabulários arquitetônicos, como Sérgio Bernardes.

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